Bom mesmo é continuar
vivo
Imobilizada na cama,
dependente de outros para satisfazer
necessidades vitais, a personagem da
novela exibida por um canal popular de
televisão tem provocado muitos arrepios.
A maioria treme à ameaça de morte lenta,
entrevados numa cama, vegetais humanos
que perdem o viço diante do olhar
piedoso e amedrontado de amigos e
parentes.
Indagados sobre preferências e condições
do último ato, as pessoas revelam o que
imaginam ser melhor. “Bom seria morrer
de repente”, pensam alguns. “Como um
passarinho”, fantasiam outros.
“Dormindo”, contribui um terceiro. A
maioria esmagadora, no entanto, não
importa como viva, acredita que melhor
seria mesmo não morrer.
Cientistas de todos os países
debruçam-se sobre livros e provetas em
busca do prolongamento da vida. E vale
tudo: improvisados síndicos do delicado
edifício humano, trocam válvulas, limpam
filtros, calibram a a máquina,
fortalecem as fronteiras do corpo
resguardando-o de inimigos externos. Às
vezes trocam peças inteiras, desgastadas
pela idade ou inutilizadas pelo mau uso.
O sonho agora é reproduzir órgãos,
transformando laboratórios em
fantásticas fábricas de peças de
reposição, numa engenharia
revolucionária antes impensável. A
imaginação que antes entrava por esses
caminhos e alimentava a produção de
livros e filmes de mau gosto é hoje
festejada como bendita mensageira de
nova era nos domínios da medicina e da
saúde. E, acredita-se, as fronteiras da
vida e da morte recuam cada vez mais.
Mais importante que pensar na morte,
contudo, é viver a vida. Da maneira mais
plena possível, mais abrangente, mais
significativa. Ativa, mas sem perder a
reverência. Unindo, sempre que possível,
bem estar íntimo que some alegria para
os outros.
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