Emergência
Emergência é quando há uma situação crítica ou algo iminente, com ocorrência de perigo; incidente; imprevisto. No âmbito da medicina, é a circunstância que exige uma cirurgia ou intervenção médica de imediato. Por isso, em algumas ambulâncias ainda há “emergência” escrita ao contrário e não “urgência”.
Urgência é quando há uma situação que não pode ser adiada, que deve ser resolvida rapidamente, pois se houver demora, corre-se o risco até mesmo de morte. Na medicina, ocorrências de caráter urgente necessitam de tratamento médico e muitas vezes de cirurgia, contudo, possuem um caráter menos imediatista. Esta palavra vem do verbo “urgir” que tem sentido de “não aceita demora”: O tempo urge, não importa o que você faça para tentar pará-lo.
A emergência representa
uma situação ameaçadora, brusca e que
requer medidas imediatas de correção e
de defesa. Também significa acidente e
necessidade urgente. A urgência no
dicionário médico consta como um estado
patológico que se instala bruscamente em
um paciente, causado por acidente ou
moléstia e que exige terapêutica médica
ou cirúrgica urgente. Que urge, que deve
ser feito com rapidez.
Em todas as cidades existem serviços
denominados de emergência ou de urgência
ou como é comumente falado
"prontos-socorros". Uma questão que de
inicio exige uma reflexão é que nesse
inicio de década, nestes anos 90, talvez
muitos dos chamados prontos-socorros não
poderiam nem assim ser denominados,
porque não apresentam as mínimas
condições de prestação dos serviços que
seriam obrigados a prestar, e isto
estaria muito mais na esfera da justiça
comum do que na discussão ética, que é
mais profunda. E não vamos perder tempo
com o que é do âmbito da política e do
Poder Judiciário.
A emergência médica é muito diferente da
medicina do posto de saúde, do
consultório. do tratamento programado,
quer seja ou não em hospitais, porque na
emergência nós temos uma situação única
em que a decisão médica e a decisão
ética tem de ser imediatas. E esse
imediatismo tem de estar pronto,
portanto as pessoas que trabalham nesses
locais têm de estar preparadas médica e
eticamente dentro dos princípios médicos
e éticos para dar um atendimento
competente e um respeito aos direitos do
paciente, que, por ser em um serviço de
urgência, mais facilmente corre o risco
de ser ameaçado.
A emergência, os pacientes são levados
muitas vezes contra a sua vontade,
recusando o atendimento médico padrão.
Muitas vezes podem estar com o seu
estado mental perturbado, quer seja por
um problema psiquiátrico, por uma doença
ou até por uma intoxicação. Os médicos
que ai trabalham têm muito pouco tempo
para ter acesso a capacidade de
raciocínio, ou à competência do paciente
em tomar decisões que protejam sua
saúde, e tem que tomar decisões rápidas,
sem ter o beneficio de poder consultar
as comissões de ética, por exemplo. Em
muitos lugares, existe o atendimento
pré-hospitalar, em que o pessoal não
médico trabalha e os médicos também são
responsáveis pelas decisões dessas
pessoas e autorizam medidas, sem ver
diretamente os pacientes.
Na emergência, o trabalho e longo, duro,
estressante, sem adequado repouso e
alimentação. Os médicos são solicitados
a tomar conta e a coordenar o cuidado de
muitos pacientes simultaneamente. Eles
têm de estar cientes de suas limitações
e capacidades para dar o melhor cuidado
aos seus pacientes e mesmo assim não
diminuir sua efetividade pela fadiga ou
frustração.
O paciente tem dificuldade em manter um
relacionamento confidencial em um
ambiente aberto no qual medicas,
enfermeiras, pacientes, segurança,
polícia, socorrista e técnicos em
medicina interagem simultaneamente.
Associado a tudo isso, acrescentam-se os
problemas ocasionados por um imperfeito
sistema de saúde, que acaba sendo mais
bem demonstrado em um setor de
emergência, dificultado pelas más
condições de trabalho, de poder dar o
atendimento adequado, e acrescentando a
isso, em nosso país, a inadequada
remuneração dos profissionais da área da
saúde, facilitando o risco de que o
atendimento seja alterado pelo status
social, pelo tipo da doença, do trauma e
até da possibilidade de pagar, de ter ou
não ter dinheiro.
A medicina é uma profissão a serviço da
saúde do ser humano e da coletividade e
deve ser exercida sem discriminação de
qualquer natureza, e o médico deve agir
com o máximo de zelo e o melhor de sua
capacidade profissional. Para que isso
aconteça, deve ter boas condições de
trabalho e ser remunerado de forma
justa, de tal maneira que possa viver
tranqüilamente e possa se atualizar
constantemente, podendo sempre indicar o
procedimento adequado ao paciente.
Pelo nosso Código Penal, Código Civil e
pelo Código da Ética Médica, é vedado ao
médico deixar de atender em setores de
urgência e emergência, quando for de sua
obrigação fazê-lo, colocando em risco a
vida dos pacientes. Esta e a obrigação
maior da profissão médica e, sem
discussão, através dos tempos, o
respeito pela vida de outra pessoa. Dai
o porque de devermos ser sempre contra a
greve na emergência e por extensão à
pena de morte e à tortura.
A porta de entrada a um sistema de saúde
se faz ou por meio da atenção primária
em nível dos postos de saúde, dos
consultórios ou por meio da emergência,
quando, de repente, por inúmeras razões,
necessitemos de uma atenção a mais
imediata possível, senão corremos o
risco de termos nossas vidas realmente
alteradas. E por esta razão que na
situação da emergência existe uma
obrigação real do Estado de prestar e
assegurar este tipo de atendimento, que
é totalmente independente da questão
ideológica, porque alguém inconsciente
não tem a capacidade e a competência de
determinar o seu destino e a sociedade
como um todo tem de assegurar por meio
do Estado o atendimento adequado ao
cidadão.
Esta é a questão ética mais importante,
e ainda não está resolvida, porque o
restante depende de competência técnica
que pode ser aprendida nos bancos
escolares e no relacionamento humano
entre médico e paciente, que também pode
ser ensinado e que deveria sê-lo nos
bancos escolares.
O acesso a setor de emergência é um
direito individual de toda a pessoa, e
devemos lutar de todas as maneiras a
remover as barreiras que impeçam esse
acesso. O direito à emergência é igual
ao direito à vida. A sociedade como um
todo tem de tomar conhecimento deste
direito para poder assegurar um direito
que se estende desde a fase
pré-hospitalar, hospitalar, seguimento
ambulatorial e a reabilitação. A fase
pré-hospitalar é uma extensão do setor
de emergência dentro da comunidade. Os
pacientes devem ter acesso rapidamente a
pessoas treinadas para que possam ser
atendidas e transportadas adequadamente
a hospitais onde possam receber o
atendimento correto. O acesso a esses
serviços não pode ser limitado, e cabe à
comunidade, como um todo, participar
junto com os que governam assegurando os
recursos mínimos para que isso aconteça.
Para que, quando a população necessitar,
não lhe seja negado o atendimento,
tomando por base considerações de ordem
financeira.
Como exigir condutas éticas, se a parte
fundamental não está corrigida? Este é
fator fundamental que leva os médicos e
os pacientes a muitas vezes de
digladiarem, a colocar grades nas portas
dos prontos-socorros para que só possam
entrar pessoas em estado real e
flagrante da situação urgente, negando
assistência a quem procura médico e vai
ao pronto-socorro porque sabe que lá tem
médico 24 horas. O que é urgência? Para
quem tem dor de cabeça, é urgente que
ela passe. Como detectar isso? A dor é
subjetiva. Como limitar o atendimento?
Faltam postos de saúde, as pessoas estão
sendo atendidas nos lugares errados. Os
recursos para área de saúde são ínfimos.
Quanto cada um de nós, as empresas,
contribuem para isso? Quanto o Estado
separa para a saúde? Como resolver as
questões éticas do relacionamento
individual da microssociedade, se a
macrossociedade não se importa com isso.
Antes da discussão da ética médica,
temos de discutir a ética na sociedade.
Enquanto nós cidadãos não estivermos
preocupados com a saúde, enquanto com
saúde, como poderemos nós quando
traumatizados, injuriados, doentes,
intoxicados, gritar por nossos direitos?
Por essa razão no nosso pais, neste ano
de 1993, encontramos na área médica
atividades de ponta altamente
sofisticadas em pleno funcionamento, ao
lado de serviços de emergência sujos,
mal estruturados, pondo pacientes
internados em corredores, quando
deveriam estar em unidades de terapia
intensiva. Como discutir ética de
relacionamento médico-paciente, se de
repente ele se acostumou a esta
situação?
Os ministros da área da Saúde vêm se
renovando constantemente, e não vejo
que, pelo menos na minha vivência nos
últimos 15 anos tenham realmente
contribuído para que esta situação que
deve assegurar o direito à vida venha a
melhorar. Deve a sociedade por meio do
Estado assegurar o direito à vida, e na
área da medicina deve existir um setor
de emergência em cada vila, em cada
cidade, que assegure, dentro dos
recursos disponíveis e com prioridade,
condições adequadas de tratamento por
pessoal devidamente treinado
profissional e eticamente.
Como conseguir isso? Na vida nós
aprendemos que as decisões importantes
devem iniciar por quem as vai usufruir.
Na áreas da saúde deverão, portanto,
participar os usuários por meio
logicamente de suas representações, os
médicos e demais profissionais da área
da saúde, a área governamental
correspondente e todas aquelas outras
pessoas que de alguma forma têm o
interesse de manter a saúde da
população. Temos ai, portanto, pessoas
que por certo procurarão encontrar as
melhores soluções para um sistema de
saúde. Terão de ter função deliberativa
e, se isso funcionar, em nível de cada
governo, isto é, em nível municipal,
estadual e federal teremos finalmente
pessoas que irão em busca de recursos,
que lutarão para que as decisões na área
do orçamento atinjam realmente a saúde e
saiam do discurso puramente eleitoral
cumprindo o disposto na Constituição: "A
Saúde é um Direito de Todos". Esta é a
maneira que os países civilizados
utilizam para que seus sistemas de saúde
possam funcionar, e todos com certa
prioridade para emergência.
No nosso pais, essas idéias já estão na
Constituição e nas leis, falta apenas
operacionalizá-las. São os Conselho de
Saúde, solução ou pelo menos
encaminhadores efetivos com
possibilidades de solução na áreas da
saúde. Se nós tivermos o principio
básico da emergência resolvido, ficará
mais fácil discutir os diferentes
aspectos éticos do atendimento.
A relação médico-paciente começa quando
o paciente entra literalmente no
sistema. O contato inicial geralmente é
efetuado por pessoal do hospital em um
balcão de triagem, em uma sala de
espera. Algumas vezes o paciente pode
até escolher o seu médico, mas não é o
mais comum. O ideal seria que essa
primeira entrevista fosse efetuada por
pessoa da área da saúde e, neste caso,
uma enfermeira especializada em
atendimento de emergência que na forma
de pré-consulta pudesse levantar os
dados básicos, a história, as queixas
principais e os dados vitais
fundamentais. Com isso ela poderia, em
um julgamento sumário conceder a
prioridade ou não no atendimento. A
ordem aqui é de que serão primeiramente
atendidos os casos mais graves, mas
todos serão atendidos. Nesta
pré-consulta se percebe a angústia, a
ansiedade, e isto pode ser também
prioritário. A outra forma de entrada e
quando vem trazida por ambulância, tendo
sido atendida na rua, em casa pelo
pessoal médico e socorrista do sistema
pré-hospitalar de atendimento, onde o
primeiro contato foi efetuado, por
exemplo, por um socorrista bombeiro que
foi acionado por um telefone padrão por
alguém da comunidade, atendido em uma
central de emergência por médico que
despachou uma ambulância para o local,
informando que lá chegaria em um prazo
mínimo de tempo e que, dependendo da
informação, estaria também presente um
médico. Na urgência esse atendimento
rápido no local do acidente, por exemplo
transmite uma tranqüilidade e uma
esperança de salvamento. Sendo atendida
no local por socorrista, por médico e
transportada adequadamente para o
hospital, convenientemente selecionado,
inicia uma relação mais fácil porque
esta entrada ao hospital já é direta ao
setor médico, uma vez que já iniciou a
fase de pré-consulta e em parte já de
consulta o que facilita a comunicação
com o hospital a situação mais ou menos
critica do paciente. Desta forma, o
próprio hospital já pode se preparar
para o atendimento. Nesta fase
pré-hospitalar, podem se apresentar pelo
menos duas dificuldades, a primeira a
necessidade de deslocar ou não um médico
para o local do acidente, porque, na
questão do trauma, a função pode na fase
pré-hospitalar ser delegada sob
supervisão médica, pois em um primeiro
momento nós não precisamos fazer um
diagnóstico exato do que está lesado, e
sim tratar de suas conseqüências:
proteger o ferimento; diminuir a
hemorragia; manter a respiração e as
batidas do coração. Precisa ou não
precisa do médico no local. Esta é a
decisão a ser tomada baseada nas
informações de quem pediu socorro e nas
informações do socorrista no local do
acidente. Na duvida, deverá ter
disponível e enviar um médico ao local?
A outra situação ainda na fase
pré-hospitalar é na relação com o
paciente, que deseja ser conduzido para
determinado hospital que e aquele que
não esta na relação dos hospitais dentro
do sistema de emergência da cidade e que
muitas vezes tem a competência para
efetuar o tratamento. O que fazer?
Obedecer rigidamente ao sistema. O que
pode ser a solução mais fácil desde que
essa regra tenha sido aprovada pelo
Conselho Municipal da Saúde, ou então
saber administrar caso a caso. O que tem
de ser uma decisão rápida porque nesse
momento está em jogo o resultado final,
e cabe a responsabilidade pelo caso a
quem atende o paciente. Se o resultado
final do atendimento for mau, aquele que
levou para determinado hospital também é
responsável em parte pelo mau resultado.
No hospital, o médico, ao entrar em
contato com o paciente, deverá dar o
melhor de sua competência, respeitando a
dignidade de seu paciente. Deverá
obrigatoriamente comunicar, se possível,
honesta e efetivamente, as decisões que
deverá tomar para a proteção da saúde. O
primeiro objetivo, portanto, é dar um
caminho para se obterem resultados
semelhantes, e isto existindo, nos
teremos que respeitar o direito de
autodeterminação dos pacientes adultos
que tenham capacidade de tomar uma
decisão apropriada. O direito do
paciente e um principio fundamental da
nossa sociedade e, nesse sentido, para
que ele possa decidir, e necessário ser
adequadamente informado. Por exemplo, em
algumas áreas da medicina o tratamento
poderá ser cirúrgico ou conservador, com
Inconvenientes em ambos os processos. Se
no dia do acidente, o paciente não tiver
muitas condições de tomar decisões,
talvez o dia seguinte seja o melhor
momento. Lembro-me de um caso de meu
professor de ortopedia, que na visita
médica hospitalar geral aos doentes
diante de um paciente que apresentava
fratura de fêmur e que estava sob tração
esquelética, comentou que seria assim
que gostaria de estar se tivesse soando
um acidente em uma de nossas estradas e,
tendo perdido a consciência, acordasse
no dia seguinte em um leito hospitalar
onde ao lado visse um médico jovem que
Ihe dissesse: "O senhor sofreu uma
fratura diafisária do fêmur e uma
contusão craniana, e nós colocamos essa
tração para que agora o senhor pudesse
decidir entre um tratamento cirúrgico
que lhe possibilitará ficar livre deste
leito, que seja feito aqui, ou em sua
cidade; ou o senhor deseja permanecer em
tração que também e um bom método de
tratamento, só que terá de permanecer no
leito de 60 a 90 dias?". Lembrou ainda
que poderia acontecer de outra forma,
ter acordado no dia seguinte e ao lado
do leito o medico Jovem lhe dissesse : O
senhor teve traumatismo craniano leve e,
como apresentasse bom estado geral, e
uma fratura de fêmur transversa, nós
aproveitamos e já fizemos o tratamento
adequado. Operamos e colocamos uma haste
intramedular de tal modo, que o senhor
dentro de poucos dias poderá se
locomover com muletas e ficar livre do
leito hospitalar". Este caso representa
o exemplo típico que pode acontecer no
setor de urgência. O que passa no
cérebro de um traumatizado ao se dar
conta do seu problema? Em um primeiro
momento houve um acidente, não sabe bem
o que aconteceu, houve vozes, gritos
alguém lhe atende, pergunta se está tudo
bem, é tirado do local, "Graças a Deus"
alguém está atendendo, é colocado em um
leito duro e dai, em cima de uma maca ou
algo parecido conseguir ver o céu,
depois o teto de uma ambulância, rostos
preocupados, dar entrada em outro
ambiente continuando vendo rostos e
tetos e depois não vê mais nada, de
repente acorda com alguém vestido de
médico que não conhece, que não sabe
aonde esta, que hospital que está, que
cidade está, que condições tem esses
hospital, falam tanto em infecção
hospitalar e eu já fui operado. Como
proceder, deve agradecer por que alguém
cuidou de mim, devo questiona?
Em principio, quando realmente for
possível o médico é obrigado a dar um
tempo suficiente para informar
honestamente e respeitosamente as
informações para que o paciente possa
entender e avaliar as opções e decidir o
que seria o melhor atendendo aos seus
interesses, na Informação deve estar
claramente colocado os riscos e os
benefícios. O tempo que o médico dedica
a esse ponto em um setor de emergência
vai estar necessariamente ligado a
obrigação com os outros pacientes.
Na situação de emergência esta questão
está levantada desde que haja
possibilidade para isso, se o paciente
tem a capacidade e competência de tomar
decisões, nem sempre e possível e na
verdade nem sempre dá tempo para isso,
mas o que se vê é que parece nunca haver
tempo e nos sabemos que em muitas
situações isto é perfeitamente possível.
O médico deve estar também consciente
quando atender menores de idade,
resguardando os casos em que existe
risco de vida ou de grave perda
funcional inadiável onde o médico tem
autoridade e competência de agir. O
consentimento para tratamento deve ser
obtido dos pais ou de quem o representa
legalmente, portanto nas condições menos
urgentes deve o médico envidar esforços
em obter o consentimento dos pais.
Poderemos ter situações em que os pais
recusam determinado tipo de tratamento,
mas a severidade da lesão possa requerer
uma intervenção imediata. Nessa situação
especifica, seria importante a opinião
de um segundo médico, que corrobore com
a necessidade da intervenção. E é
necessário estar documentado, assim como
a comunicação do fato ao diretor técnico
da instituição. O nosso código de ética
também prevê que, em determinadas
situações de menores próximos da
maturidade, eles mesmos possam tomar as
decisões que devem ser consideradas.
Outra questão que deve ser considerada
similar aos menores é a dos pacientes
mentalmente incapacitados, seja
naturalmente ou pela propicia causa que
originou a urgência. Deve o médico
procurar obter, se possível, o
consentimento dos pais, ou de membros da
família.
A verdade é fundamental e deve ser
apresentada de maneira que o paciente ou
seus responsáveis possam entender, em
algumas situações, a presença de um
médico conhecido da família poderá
ajudar a compreender a necessidade de
uma intervenção e restabelecer um
relacionamento entre o médico e
paciente.
A confidência é um outro principio
básico na relação médico paciente. No
cuidado adequado, o medico necessita
obter informações bastante intimas e
deve, portanto, tomar cuidado para que
essas informações não sejam violadas e
perturbem a relação e que é mais
público. Há algumas situações que podem
gerar conflitos áticos. O médico tem a
obrigação de seguir as leis e proteger a
sociedade como um todo.
Se o paciente revela uma informação ou
tem uma conduta que possa indicar um
perigo a si mesmo e ou aos outros,
deverá o médico considerar se deve ou
não violar a confidência. Essas
circunstâncias em geral incluem a
comunicação de uma doença de notificação
compulsório e até de notificar a
policia, se for crime de ação publica.
Enquanto o médico coloca na mente estas
dificuldades e faz o balanço entre o
paciente e a proteção da sociedade, deve
lembrar que não é agente de polícia e
que o principio da confiabilidade não
pode ser violado por qualquer coisa. O
interesse no cuidado da saúde do seu
paciente deve ser a sua principal
preocupação.
No setor de urgência, a questão da
manutenção da vida e do atendimento à
parada cardiorrespiratória é com certeza
o momento mais angustiante, na verdade a
razão principal de ser do setor de
urgência. Todo o serviço deverá ter um
protocolo de atendimento que deverá ser
seguido rigidamente em todos os seus
tópicos, até que finalmente o
responsável considere o paciente morto.
Esta situação de parada
cardiorrespiratória poderá eventualmente
acontecer em momentos na vida de uma
pessoa que possa apresentar situações
que mereçam considerações, como, por
exemplo, com uma doença terminal o
paciente tenha manifestado o desejo de
que não se tomasse medida de
ressuscitação, caso tivesse uma parada
cardiorrespiratória. Quais os limites de
respeitar esta decisão? Saberá o
paciente realmente de sua situação?
Estará o médico que o atende comumente
com a certeza do diagnóstico e evolução?
Neste ponto nos encontramos em um
terreno que está entre tomar uma atitude
médica, e que na dúvida deve ser tomada,
ou então passarmos a iniciar uma
discussão que entra no campo da
eutanásia passiva, que não é o assunto
deste capitulo, mas que devemos encarar
com maior serenidade, porquanto a
eutanásia ativa na nossa opinião não faz
parte da prática médica e é eticamente
inaceitável.
A minha experiência no setor da urgência
tem mostrado outro campo que é
freqüentemente desrespeitado. Como fica
a família do acidentado, do doente? Ela
é habitualmente relegada a um canto, sem
ter acesso só a nenhuma informação, como
se ela não fizesse parte do caso, como
se o paciente que está sendo
corretamente atendido não fosse mais
parte daquela família, como se o setor
de urgência não tivesse obrigação com
aquelas pessoas. Lembra o passageiro de
uma aeronave que não obtém nenhuma
informação na eventual complicação a
bordo e que isso diz respeito apenas aos
que dirigem e cuidam do avião. Parece
que esqueceram que os pais, os cônjuges,
os filhos, os amigos não têm
sentimentos, não tem dúvidas, não sofrem
angústias. Quantas vezes fomos chamados
por um familiar amigo para ir até o
pronto-socorro, uma vez que, por eu ser
médico, poderia ter acesso a um setor de
urgência e poderia saber o que estava
acontecendo com seu filho, se estava
vivo, se estava morto, se tinha
condições de sobrevivência, pois já
estava uma hora lá dentro e ninguém
dizia nada. Em um tempo em que o homem
assiste o parto de sua mulher, em um
tempo em que a criança tem o direito de
ter a presença da mãe ao lado de seu
leito no hospital, ainda é difícil a
obtenção de informações em nível do
setor de urgência. No serviço de
emergência padrão, deve existir a sala
da família, onde algum profissional da
área da saúde poderá mantê-los
informados. O ideal talvez fosse uma
psicóloga, pois existem pessoas mais ou
menos angustiadas a quem o médico, no
momento possível, desde que não
interfira na sua ação, tenha a obrigação
de levar o conhecimento da real
situação.
Podem existir conflitos entre o médico,
o paciente, os familiares e a questão da
transferência de médico ou de hospital
pode surgir. Deve o médico, considerar
esta situação como natural e discutir o
problema com quem de direito. A primeira
situação seria, o que é dever
fundamental do médico que é se o
paciente necessitar de cuidados mais
intensivos que o hospital não consiga
resolver. O médico é que deve solicitar
a transferência, dando toda a
assistência para que isso se efetive
adequadamente. A outra poderá ser a
impressão do paciente e dos familiares.
Senão houver risco real de vida, deve o
médico expor claramente os outros riscos
e concordar desde que os cuidados de
transporte ou para onde se dirigir o
paciente forem adequados. O melhor
resultado nós vamos obter quando o
paciente quiser ser por nós tratados.
Um outro tópico se desenvolve e acaba
acontecendo no setor de urgência, é a
questão da morte encefálica, que leva a
decisões sobre a possível doação de
órgãos para o transplante. O medico que
atende urgências tem de entender
claramente os critérios de morte
encefálica, e o paciente que acabou de
ter decretada essa morte torna-se um
candidato a poder ajudar a outros
pacientes. Cabe a esse médico que
durante horas lutou pela vida e com toda
compaixão possível, calmamente, informar
a família da situação para que ela possa
entender, compreender e decidir pela
doação, no caso de o paciente em vida
não deixar nenhum documento explicitando
este desejo, já que a lei lhe dá esse
direito.
O setor de urgência em um hospital é o
lugar onde principalmente em nosso meio
há uma troca constante de pessoal pelo
trabalho árduo, estafante que lá se
exerce. O controle de qualidade,
portanto, não é fácil de ser mantido e
deve e tem responsabilidade sobre este
setor o diretor técnico da Instituição
no sentido de manter educação médica
continuada, por meio de cursos e
fundamentalmente no estabelecimento de
protocolos em cada tipo de ação que
exerça. Isto manterá uma rotina em cada
procedimento, que deverá ser obedecida
rigidamente em cada hora, em cada dia,
por cada um dos plantonistas, de tal
modo que a rotina seja mantida e as
mudanças que existam sejam justificadas
e todos os atos devidamente
documentados. Só desta maneira, teremos
condições de verificar na evolução a
qualidade do atendimento. No setor de
urgência, o paciente procura ou é
conduzido ao hospital, não procura
diretamente este ou aquele profissional
em um primeiro momento porque a situação
de urgência não é esperada. A existência
de protocolo, a fiel, mas sucinta
descrição dos atos executados, seguindo
um protocolo previamente discutindo e
aprovado medicamente, coerente, em um
prontuário, é a maior defesa que o
médico terá, se for necessário no Âmbito
ético, bem como no campo da justiça
comum.
O tratamento na área da urgência termina
em geral ou na internação que se dá ao
redor dos 30% dos casos e onde nós
teremos outros tipos de
responsabilidades e condutas éticas que
não cabem agora discutir, ou então no
encaminhamento para casa e para um
atendimento de seguimento ambulatorial
que todo o hospital de emergência deve
ter. O paciente sairá com uma receita do
que fazer, e a este doente terão de ser
fornecidas as informações sobre o que
possa acontecer principalmente sobre as
possíveis complicações que possam advir,
quer pela evolução natural doença, quer
por possíveis complicações do próprio
tratamento efetuado, pois em medicina
não existe o absoluto. E uma profissão
de meios, apesar de que em parte em
determinadas situações seja também de
resultado. O ideal é que essas
informações, além da descrição oral,
fossem feitas também por escrito, não
sendo tão difíceis porque elas já estão
até padronizadas, e isto facilitaria o
entendimento entre o médico e paciente,
principalmente se forem decorrentes do
tratamento. O paciente, quando atendido
no setor da urgência, pelo problema
apresentado que não era esperado, fica
de certo modo perturbado e acaba muitas
vezes não escutando o que o medico falou
e, se receber por escrito, com certeza
irá ler no aconchego do seu lar.
O médico trabalha com enfermeiras,
técnicos de raios x, técnicos de
laboratório, assistentes sociais,
psicológicos, pessoal da ares de
recepção, socorristas do atendimento
pré-hospitalar e outros médicos. Deve
existir um inter-relacionamento em que
além da cordialidade e boa educação,
prevaleça a competência profissional,
que é o que irá atender o melhor
interesse do paciente. O médico é que
tem a maior responsabilidade sobre os
aspectos no manuseio do paciente, e toda
a função exercida por outros
profissionais é por ele delegada, para
isso ele tem de ter a competência de
estar em dia com o avanço sempre
existente da medicina. Isto acontecendo,
muito provavelmente por parte dele não
existiria nenhum deslize ético. Mas
quando a falta de cordialidade e de
educação prevalecer, então sim
passaremos a ter dificuldades no
relacionamento. Quando a falta de
competência surgir, perderá o médico o
seu espaço e as outras profissões,
principalmente a enfermagem, ocuparão o
seu lugar. Ao que parece é o que vem
acontecendo com as diversas áreas da
saúde, necessitando de repente revisar e
definir o que é ato médico.
E no campo da emergência que o hospital
está exposto à maior quantidade de
queixas e reclamações. É aqui que entra
de modo importante a comissão de ética
da instituição, um fórum relativamente
recente e ainda não foi percebido pela
população como um lugar onde poderá
esclarecer suas dúvidas e até encaminhar
uma reclamação real de um atendimento
não realizado corretamente. Recordo que
em um dos hospitais de emergência que eu
visitei, em toda informação escrita,
fornecida ao paciente, existia no final
um aviso para que, se tivesse alguma
discordância ou reclamação a fazer, se
dirigisse este fato para seus amigos e
familiares. Outro fato importante seria
estar afixado em local visível os nomes
da comissão de ética e o respectivo
local onde poderiam ser encontrados, em
uma demonstração clara de que o hospital
está preocupado com o bom atendimento de
seus pacientes, para que se algo houve
que não correspondeu, o hospital
demonstre o firme propósito de corrigir
falhas que porventura existam.
O serviço de pronto-socorro apresenta a
oportunidade do médico utilizar vários
sistemas de diagnósticos; no tratamento,
a oportunidade de usar os mais variados
tipos de implantes. Em virtude disso,
tem de tomar cuidado com os presentes
que possa ganhar da indústria biomédica,
que não podem e não devem influenciar no
julgamento do que utilizar. Pequenos
presentes ou alguma forma de melhorar a
educação podem ser aceitas, mas
presentes de alto custo, viagens que
irão influenciar o julgamento clinico
não podem ser aceitos.
Na vida de uma cidade, existem momentos
que podem se transformar em grandes
tragédias, que é quando acontecem
desastres como acidentes com transportes
coletivos, ônibus, avião, trem, em que
ar mesmo tempo surgem dezenas de
feridos. Nesses casos, o médico que
atende urgências terá de tomar decisões
que beneficiem o maior numero de
sobrevivestes. Isto acontecerá na
triagem de quem podara se beneficiar dos
recursos existentes, optando em primeiro
lugar, por aquelas pessoas que julgar em
estado grave, enquanto outras que
apresentem lesões menores devem ser
colocadas em situação confortável, para
que possam aguardar a sua assistência
até que as coisas se acomodem.
Todas as questões que apresentamos já
foram estudadas, já foram discutidas, já
estão escritas. Por que será que levamos
tanto tempo para operacionalizá-las? Por
que será que o ensino da
emergência-urgência, a maneira de se
comportar, encontra tanta dificuldade em
ser ensinado, nas escolas médicas? Será
porque a medicina se desenvolveu tanto,
com fatos detalhes técnicos em cada ato
que se tornou difícil juntá-los todos em
um só indivíduo e ao mesmo tempo
considerá-lo um ser humano que sente,
que sofre que não sabe das coisas? Creio
que não dedicamos o tempo suficiente
para estudar, falar de pessoas; de como
nos entender com elas. O curso médico se
transformou em informações,
conhecimentos e competências técnicas
que são muito importantes. Mas a
formação médica só estará completa com o
domínio do conhecimento e do
comportamento do homem sozinho ou
vivendo em sociedade, e é na emergência
que a fragilidade da estrutura emocional
se coloca na superfície. Teremos de
incentivar esses aspectos na formação do
nosso profissional da área da saúde,
principalmente o médico, que normalmente
comanda essa equipe.
O último tópico que gostaríamos de
discutir é a greve na emergência. Nós já
vimos que o nosso código da ética, que o
código da vida, dá-nos o direito de
fazer greve, mas, com a exceção do setor
de urgência. Do ponto de vista ético, a
discussão terminaria aqui, pois é vedado
ao médico deixar de atender em setores
de urgência-emergência, quando for de
sua obrigação fazê-lo, colocando em
risco a vida de pacientes, mesmo
respaldado por decisão majoritária da
categoria. Mas, mesmo assim, alguns
conceitos eu gostaria de emitir. Em
todas as greves do setor saúde que eu
presenciei, existiam as conhecidas
comissões éticas de triagem, que
definiam o que era ou não emergência e
com toda certeza ocorriam erros de
diagnóstico. O que é emergência? Nem os
médicos sabem com certeza delimitar os
seus limites. O que não é emergência
para o médico nesse momento, pode se
tornar daqui a pouco. E a emergência que
o médico não viu que, deflagrada a
greve, o paciente não procura
atendimento porque sabe que não será
atendido, então o caso se agrava e não
dá mais tempo de fazer alguma coisa. O
sistema de saúde francês foi em busca
também da definição do que é emergência,
mas, junto aos usuários do sistema, o
que a população entende por emergência.
Na verdade nós vamos lentamente nos
envolvendo em todo o conceito de greve
no setor saúde. As greves existentes ou
que existiram sempre foram contra
instituições, e nunca contra os
usuários, que normalmente contribuem com
o que lhes é pedido. Mas são eles as
vítimas, e o setor os usa como reféns, é
justo?
A greve no setor da saúde, portanto, no
meu entender, não tem trazido de forma
clara os resultados almejados. Acredito
que, somente quando discutirmos a crise
do setor com aqueles que o usufruem e os
fizer-mos entender que o ganho adequado
e melhores condições de trabalho é
fundamental para o bom atendimento, nós
teremos a solução para esses problemas.
Já existe possibilidade que é a
representação médica nos conselhos de
saúde, que podem deliberar para onde vão
os recursos disponíveis e com que
prioridade.
Finalmente, podemos tirar algumas
conclusões sobre a ética e a
responsabilidade médica na emergência.
Aqueles médicos que trabalham no setor
têm a obrigação de dar o melhor de sua
atenção técnica e ética a todos os
pacientes que procuram esse setor. E a
instituição que o mantém tem obrigação
de fornecer a ele direta ou
indiretamente uma educação médica
continuada, que possa manter sua
qualidade no atendimento, exigindo das
organizações mantenedoras que forneçam
os recursos; que eles sejam
correspondentes às necessidades,
mantendo em todas as áreas sistemas de
controle de qualidade, usando, se for
necessário, os órgãos fiscalizadores das
profissões, não se esquecendo de lançar
mão também da justiça comum.
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